Belkis Carolina Calsa - Infância sem Filosofia

INFÂNCIA SEM FILOSOFIA
“(...) Pois só as crianças e os velhos conhecem a volúpia de viver dia a dia, hora a hora, e suas esperas e desejos nunca se estendem além decinco minutos...” (viver, in Sapato Florido – Mário Quintana).
Estou certa de que uma cirurgia plástica recupera com vantangem o passado perdido, mas qual seria seu similar para recuperar a ludicidade infantil perdida em todo o adulto sério e dogmático?
Acredito também, que, quando o corpo quer brincar internamente, não encontra outra alternativa do que consumir guloseimas.
Levei, contudo, um choque ao verificar, numa recente reportagem da revista Veja, que a criança da atualidade não quer mais brincar! É isso mesmo. Estamos diante da primeira criança da história da civilização humana, que não brinca mais, que acha o brinquedo algo superado, algo assim tipo demodê.
Quer ser imediatamente adulta. Quer usar as roupas da moda, Ter um bom salário e demais preocupações adultas: boa aparência, parceiro amoroso, etc.
O que se pode imaginar com isso? Que o espaço do brinquedo deve, de agora em diante, ficar aos cuidados dos adultos! Que adultos? Evidentemente do filósofo. É Ernildo Stein quem afirma que filósofos são os que apreendem “a resistência contra a destruição de sua ingenuidade” e cita Spaemann “pois motivos tão infantis como freedomand dignity são o único interesse que nos leva a filosofar”.
Qual perigo que corre o filósofo brincalhão? Acreditar e levar muito a sério o próprio brinquedo! “Cansou-se da incerteza, do círculo vicioso daquela guerra eterna que sempre o encontrava no mesmo lugar, só que cada vez mais velho, mais acabado, mas sem saber por que, nem como, nem quando. Sempre havia alguém fora do círculo do gíz. (…)
E anormalidade era precisamente a mais terrível daquela guerra infinita:não acontecia nada. (G.G. Marques).
Pode ser que o filosofo seja o único que mantém intacto o tecido do saco onde guarda seus mais caros brinquedos.
A criança da modernidade tardia que vivemos, envenenada pelos ícones midiáticos, já não sonha, vende a infantilidade pela incogruência adulta que deixa fatalmente esgotado, farto, todos os que adultos são. Essa criança arrasta o saco vazio no niilismo.
O brinquedo definitivamente perdeu a graça, perdeu com ela a sacralidade. Seriedade não combina com prazer.
Belkis Carolina Calsa - Advogada e Professora
Coluna Jornal Nova Geração - Filososofando com Belkis
Na Foto: Belkis Carolina Calsa e Marcia Tiburi do Canal de TV GNT

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