Diante do acervo de quase 20 mil fotografias, Santos percebe nos 139 anos de Estrela uma série de ciclos de produção e desenvolvimentos, separados por rupturas e dificuldades econômicas. “O que mais vejo é a capacidade extraordinária de Estrela se reinventar.”
O aniversário de emancipação é nesta quarta-feira, 20, em meio à programação da Maifest. Com novos investimentos e a aposta no turismo, o município esquece a dependência econômica em torno da Polar, converte sua importância histórica à cultura e avança na diversificação da econômica.
O fim da indústria Farol S/A, em 1990, e o declínio da cervejaria nove anos depois, o que culminou com o fechamento, em 2006, foi a mais recente quebra de um ciclo. Em 1941, outro havia terminado: a enchente assoreou o Rio Taquari e prejudicou o transporte fluvial, responsável por movimentar a economia desde a fundação do povoado.
Em ambos os casos, o desemprego de quem havia deixado o campo para trabalhar na cidade motivou o município a investir em alternativas. O anúncio mais recente é a instalação da Ecometano, no distrito da Linha Delfina. O investimento da indústria de gás natural chega a R$ 80 milhões. Obras devem começar até o fim do ano.
A nova indústria soma-se a outras consolidadas. Em 2014, as empresas renderam quase R$ 20 milhões em ICMS, o imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias. Líder no retorno do imposto, a Tangará Foods supera a crise do setor leiteiro. Na sequência, vem Brasilata e Plastrela.
O setor de metalurgia, com grande participação de implementos rodoviários, se torna uma das principais atividades. Nos últimos dez anos, o orçamento saltou de R$ 25,9 milhões para R$ 70,9 milhões, aumento de 173,7%.
Para o secretário de Planejamento, Marco Wermann, o mérito da captação das empresas se deve à infraestrutura. “A empresa só vem se houver pavimentação, água e luz.”
Com a ampliação da rede de água e esgoto, por meio de novo contrato com a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), a área industrial se expande. Pela previsão, o espaço ao longo da rodovia Transantarita será um distrito industrial.
Geração de empregos
O setor de serviços cresce. A empresa Lifecom trocou Novo Hamburgo por Estrela. No ranking dos maiores retornos do ISSQN, imposto sobre serviços, a empresa aparece na segunda posição, só atrás da Caixa Econômica Federal (CEF).
Segundo mostra o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), empresas estrelenses registraram 47,2 mil admissões nos últimos oito anos, o que representa 12% do resultado no Vale do Taquari. Nesse período, três mil novos empregos foram gerados.
A indústria lidera a criação de empregos, com 904 das novas vagas, seguida pelo comércio (760) e pelo setor de serviços (604). Estrela soma 2.891 empresas, número 196,8% superior há dez anos.
Construção civil
A administração municipal calcula que a cada ano 200 novos imóveis são construídos na cidade. Em três anos, o retorno de IPTU ao município subiu quase 40%. Neste ano, se espera arrecadar R$ 4,3 milhões.
A demanda por imóveis residenciais cresceu. Conforme o IBGE, a população aumentou em 11% entre 2000 e 2010. No mesmo período, o número de imóveis passou de 9.844 para 12.129, uma elevação de 23%.
Turismo
Inaugurada em 1924, a Escadaria da rua Arnaldo Diel, antiga rua da Praia, é o símbolo do novo momento do turismo regional. Até a metade do século, o local era o porto de Estrela. Fechado no auge da cervejaria, há 40 anos, o espaço foi reinaugurado neste ano.
Da estrutura original, 28 degraus e um pier permanecem submersos devido à construção da barragem de Bom Retiro do Sul. O recuo das margens tirou dos estrelenses a praia. A enchente de 1941 assoreou o rio e impediu o acesso de embarcações maiores.
Na época, de acordo com o historiador e professor Leônidas Erthal, o estrelense frequentava mais o rio do que o mercado. Agora, o hábito é retomado. Todo o complexo da orla do rio será recuperado, com instalação do Centro Administrativo.
Guia turístico da administração, o carioca Antônio Cledy Veloso, 64, vibra quando um turista conhece e aprova Estrela. Nos 42 anos de trabalho, viu no turismo a motivação para permanecer na cidade. “Troquei o Rio de Janeiro pelo Rio Taquari”, brinca.
Veloso percebe o potencial da cidade e projeta crescimento no setor. Em 2013, cerca de 24 mil turistas visitaram o roteiro, que inclui pontos de Colinas e Imigrante. No ano passado, foram 29 mil. Esses dados incluem as visitas em eventos de Natal e Páscoa.
O futuro do turismo, para Veloso, passa pelo Rio Taquari. Quando houver maior fluxo de turistas durante a semana, diz, será viável manter serviços de barcos. O trem turístico de Guaporé e Estrela é a maior aposta para aumentar o número de visitantes. O início do trabalho depende da aprovação da Agência Nacional de Transportes Terrestres.
Casa de Cultura
O prédio da Secretaria de Cultura e Turismo completa 90 anos de fundação. Construído por um engenheiro alemão, o local pertenceu a um dos precursores da era comercial estrelense, Helmutt Fett. Uma exposição no local mostra a casa em diferentes épocas.
“Estrela ganhou e perdeu”
Fixada em uma pedra de basalto, uma placa de aço indica o local onde Estrela nasceu. O monumento localizado na esquina da rua Júlio de Castilhos com a Dr. Tostes, no centro, mostra onde ficava a primeira casa da cidade. Foi moradia do latifundiário Antônio Menna Barreto, responsável pela emancipação, em 20 de maio de 1876.
Daquele local, a fazenda de sesmarias foi loteada para imigrantes alemães, vindos do Vale do Caí. Em 1954, a casa foi demolida e, um ano depois, foi construída a casa da família Schinke.
Proprietário do imóvel, que cedeu o espaço para o monumento, o médico Werner Schinke chegou para trabalhar no município há 60 anos. Nesse período, diz, Estrela perdeu e ganhou.
Para Schinke, os ganhos com o governo federal, no mandato de Ernesto Geisel, poderiam ser maiores. “Conquistamos o Porto, mas que hoje não funciona.” Schinke também lamenta a perda da Univates para Lajeado, o que debita à rivalidade entre os municípios. Entre os ganhos, o médico cita a extensão do território, a cultura da população e o desenvolvimento na agricultura e na indústria.
Abertura das festividades
O primeiro baile do Festival do Chucrute ocorre neste sábado, a partir das 20h, no Centro Comunitário Cristo Rei. O evento integra a Maifest, em comemoração ao aniversário do município.
Entre as atrações estão as apresentações do Grupos de Danças Folclóricas Alemãs, com a participação de 400 dançarinos. No domingo ocorre o tradicional Café Colonial, a partir das 15h. As comemorações seguem até o dia 24.
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