Pesquisadores da Unicamp investigam impacto do Programa Segundo Tempo em Estrela
Governo federal deseja avaliar o impacto do projeto social esportivo. Programa de Estrela é o mais duradouro do Brasil.
O Programa Segundo Tempo em Estrela é o mais antigo do Brasil, é bem estruturado e possui objetivos claros que ajudaram na formação de uma cidade com cultura esportiva. Essa é a síntese das observações do professor Riller Silva Reverdito que esteve em Estrela por uma semana para investigar o impacto que o programa estratégico mantido pelo governo federal causa nos jovens que tem e tiveram acesso a ele.
Doutorando pela Faculdade de Educação Física da Universidade de Campinas (Unicamp), Reverdito se debruça sobre o projeto de pesquisa intitulado 'O conteúdo esportivo em programas socioeducativos: avaliação de impacto do programa segundo tempo'. O projeto tem financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ele e dois de seus alunos, Paulo Mateus de Moraes e Igor Vinícius estão visitando os três locais que abrigam núcleos e subnúcleo do Segundo Tempo, entrevistando professores, pais e ex-alunos.
Além de figurar na tese de doutorado de Reverdito, o estudo faz parte de um projeto maior encomendado pelo governo federal que quer se autoavaliar por meio do projeto criado com objetivo de democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte de forma a promover o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes. “De um lado existe o interesse do governo federal em avaliar o alcance do Segundo Tempo, de outro existe o nosso em conhecer esse alcance no desenvolvimento do jovem”, enfatiza o pesquisador.
A escolha de Estrela recaiu pela longevidade do programa, que mantém sua continuidade mesmo trocando administrações.
No Brasil, o Segundo Tempo foi implantado há 14 anos e desde o início Estrela o integra. Reverdito constata que Estrela é diferenciada pela capacidade de conservá-lo. “Nós observamos que muitos projetos têm certa dificuldade em ser mantidos. Estrela foi um dos cinco municípios escolhidos pela continuidade do Segundo Tempo.”
Agora, a ideia é verificar o alcance do fenômeno esportivo. Na terça-feira, os pesquisadores visitaram o subnúcleo instalado no Centro de Atendimento Integral (Cemai) Moinhos e interagiram com as crianças que jogavam basquetebol.
Cultura esportiva
Segundo Reverdito, o que surpreendeu nas primeiras impressões é que em Estrela há cultura esportiva. “Existe uma secretaria de esportes que funciona desde 1985, ela perpassa os programas partidários, se tornando um programa de política pública e que de fato envolve pessoas com o esporte.”
Destaca também o projeto pedagógico que mantém o Segundo Tempo sustentável dentro do município. “Há uma metodologia observada no desenvolvimento das aulas e os professores possuem por cursos de capacitação. Não se trata apenas de ter o espaço, a bola e alguém olhando. Se trata de um projeto pedagógico.”
O terceiro aspecto mencionado como elemento propulsor do esporte é a estrutura, a qualidade dos equipamentos e os materiais, que estão disponíveis à comunidade, não estão trancados a cadeados. “Aqui o esporte tem seu acesso democratizado e a estrutura passa a ser a ser cuidada pela comunidade.” Prova de que quando o gestor confia na população ao deixar os espaços abertos, essa mesma comunidade zela por eles. Assim, segundo Reverdito, há um encadeamento para formação consciente e cultura esportiva. O pensamento que surge é este: “tenho de cuidar deste espaço porque ele vai me beneficiar ou ao meu filho.”
Quando tal consciência aflora, abre-se um leque de possibilidades: jovens participando em atividades de alto rendimento e competições ou mesmo integrando em seleções. Em outra frente está a terceira idade sendo privilegiada com atividades e convivendo com o esporte na maturidade. “Estrela possui um olhar especial para o esporte e contribui no segmento para o cenário nacional.”
Conforme Reverdito, os dados gerados no estudo serão levados ao Ministério do Esporte, disponibilizados para Estrela e para todo o Brasil.
Reconhecimento
A coordenadora pedagógica do Programa Segundo Tempo, Patrícia Wagner integra o projeto desde seu início, em 2003. “Nós vemos este estudo como reconhecimento e isso nos faz perceber que estamos no caminho certo.”
Segundo ela, 200 alunos de 7 a 17 anos são beneficiados com jogos em diversas modalidades, entre as quais voleibol, xadrez, tênis de mesa e rugby. As atividades são realizadas no turno oposto ao escolar. Hoje, Estrela tem dois núcleos e um subnúcleo. Um deles fica na sede dos projetos, na antiga cervejaria Polar. Outro na Escola Cônego Sereno Hugo Wolkmer e o subnúcleo no Cemai Moinhos. “Estrela oferece um grande número de projetos sociais em várias áreas, mesmo assim, o Programa Segundo Tempo está estabelecido”, informa.
Matéria e fotos: Andreia Rabaiolli
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