UM POUCO DA HISTÓRIA DA POLAR
Mesmo afastado da minha terra natal tenho acompanhado o que nela acontece. Um dos últimos acontecimentos que tem me chamado atenção, fazendo com que as reminiscências me sensibilizem e inclusive provocando saudades, pois como já afirmava Dom Duarte “a saudade é um sentimento do coração que vem da sensibilidade e não da razão”, é todo o recordar da história da Polar e a importância que teve para a cidade e para muitas pessoas que, de uma forma ou outra, direta ou indiretamente, nela foram envolvidas, nas quais eu me incluo.
A Polar, para mim especificamente, deixou marcas por duas fases vivenciadas em torno da mesma: a primeira, ainda como “guri,” a segunda já como adulto, fazendo parte de seu quadro funcional no período de 01/63 a 06/67, quando desempenhei a função de torneiro mecânico no setor de manutenção. Quanto a primeira relembro o envolvimento que ,assim como eu e meu irmão, muitos “guris” da época tiveram, ou seja, que se relacionava com a cevada, resíduo das cozinhadas da cerveja, e das barras de gelo que serviam para abastecer as “geladeiras”das casas de famílias, das “vendas” e dos bares da época. A cevada residual servia como alimento para galinhas, patos, cavalos e vacas, criações comuns em muitas casas na época, inclusive no centro da cidade. As famílias que não tinham filhos para transportar este resíduo da cervejaria até suas casas contratavam os “guris“ da vizinhança para fazê-lo, mediante o pagamento do frete.
Este transporte era feito com os carrinhos de mão, muitas vezes por nós mesmos fabricados. A atividade era desenvolvida dentro de determinações estabelecidas pela fornecedora. O termino da cozinhada e a liberação da cevada tinha hora previamente fixada, normalmente as 13h30 min. de segunda a sexta-feira. Próximo ao horário estabelecido lá estavam estacionados os carrinhos por ordem de chegada e com fichas já tiradas e pagas de quantas latas cada um levaria. Enquanto o apito não soava anunciando liberação do produto os “transportadores” não perdiam tempo aproveitavam o mesmo para jogar bolinhas de gude no pátio do SEU ROCHA, na sombra de grandes bergamoteiras. Anunciada a liberação da cevada, imediatamente cada um se posicionava junto ao seu meio de transporte, munido de sua ficha recebia do funcionário responsável o produto. Na medida em que eram abastecidos todos se deslocavam para seus destinos, rotina esta que se repetia diariamente, que além de formar amizades entre os adquirentes, era fonte de renda para os ”transportadores” do produto.
O mesmo acontecia com o gelo, quantas barras eram transportadas pelos carrinhos. Compradas as fichas lá todos se dirigiam á janela do porão, uma barra, uma e meia, duas barras, prontamente o funcionário atendia, muitas vezes serrando uma barra ao meio visando atender ao pedido e necessidade dos consumidores.
Estas atividades proporcionaram para mim e para muitos “guris” da época um envolvimento com esta grande empresa e consequentemente com pessoas e outras empresas em seu entorno. Entre elas citamos algumas: a padaria do Beno com suas mil folhas e o pão sovado, que eram muito apreciados por todos, a vidraçaria Dresch do Ito e da Maria e a mãe deles sempre sentada junto ao balcão, a sapataria e barbearia do Seu Presser, o solitário pintor Klepker que com sua habilidade e arte encantava a todos, a fábrica do seu Max Lauer, o trapiche do Osvaldo, do Bruno e do Ziebel onde se podia admirar a descida e a subida das “maxambombas” transportando a carga das “gasolinas”, a barca do seu Trajano e do João Risada que fazia a travessia dos carros, das carroças e das pessoas no rio Taquari, o Zigue Zague que iniciava junto a casa Canônica e da Alfaiataria do Seu André e terminava nos fundos da Polar encurtando assim o acesso dos pedestres do centro para a praia. Assim foi parte do meu envolvimento na primeira fase da minha vida com esta importante fabrica que também foi empregadora de meu pai e um dos meus irmãos.
Na segunda fase, ou seja, na adulta, como funcionário também tenho muitas passagens importantes e que deixaram marcas em minha vida. As amizades que se formaram e a aprendizagem que adquiri, principalmente com os saudosos mestres Carlos e seu Pai, não esquecendo também outras figuras marcantes do quadro de funcionário da época e conhecidos na cidade, entre os quais cito alguns: o Mirinho, o João Surdo, o seu Trentini, a Lola Matte e a dona Irma, únicas mulheres que faziam parte do Quadro de funcionários.
Enfim teria muito mais fatos e pessoas para serem lembradas e que fizeram parte desta história, o que talvez o farei em outra oportunidade. Neste momento quero apenas deixar o registro destes breves relatos, pois acredito serem suficientes para mostrar um pouco das lembranças que tenho desta época (décadas de 1950 e 1960) e que também deverão estar na memória de muitos estrelenses cuja lembrança provavelmente irá colaborar para demonstrar a importância que a Polar teve e sempre terá na historia da COMUNIDADE ESTRELENSE.
ADALBERTO HORN
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